Liana Cirne Lins
Visto desde a janela crítica
Uma maratona de dez dias de cinema entrando por todos os sentidos e transbordando pelos poros a que se chega ao fim num misto de exaustão e êxtase.
A experiência de escrever as críticas dos curtas nacionais e internacionais que participaram da mostra competitiva e integrar um júri especial foi rica em vários sentidos e incrivelmente envolvente, a despeito do Janela Crítica ficar um tanto marginalizado dentro da estrutura do próprio festival e de uma relativa invisibilidade dos textos publicados que, de forma até simbólica, não integram o site do J
anela e não são anunciados na página do evento no facebook.
O festival teve tantos pontos altos que os problemas técnicos dos primeiros dias, principalmente com o som do Cinema São Luiz, ficaram esquecidos à medida em que o festival avançava.
Em primeiro lugar, o festival acordou o centro do Recife, tingiu as paredes do Edifício Trianon com suas projeções e forçou os ratos a abrirem espaço para as pessoas em frente ao Cinema São Luiz, que ressurgiu como um amante antigo que reaparece para lembrar nunca ter sido esquecido.
Além disso, o festival promoveu várias catarses coletivas, iniciando pela sua abertura com Febre do Rato de Claudio Assis e passando por todos os Kubricks. Com a resolução dos problemas técnicos do som, as intensas sensações sonora e visual vivenciadas permitem dizer que ali todos assistiram O Iluminado pela primeira vez.
Quanto aos curtas, chamou atenção o fato de vários deles (Vó Maria, Oma, Adeus Mandima, Elegie à Rimbeau) orbitarem a esfera íntima de seus realizadores, levando o espectador para dentro das suas casas, das suas famílias, das suas intimidades. Isso pode ser bom, pois o universal se estabelece a partir do íntimo.
Mas também se mostra uma armadilha, quando reflete a incapacidade de ver o outro e sentir a partir dele ou mesmo quando expõe uma limitação sensorial e perceptiva do diretor.
Exercícios adivinhatórios são sempre muito arriscados, mas ao final do IV Janela Internacional de Cinema do Recife fica-se com a impressão de que esse festival vai entrar para a história da cidade e compor o imaginário coletivo artístico e intelectual que compôs seu público nesses dez dias. Não especialmente pela boa seleção dos filmes ou pela movimentação cultural no centro da cidade ou pela alta qualidade técnica de som e imagem que pode ser principalmente vivenciada na retrospectiva Kubrick. Mas porque, juntando todos esses elementos num só evento, promoveu uma experiência intelectual, simbólica e afetiva como há muito tempo não se tinha em Recife.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
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Foi lindo.
ResponderExcluirMuito Obrigado.
Liana, vc colocou pra fora tudo aquilo que eu não tive coragem e/ou ousadia para falar ano passado. Estou super emocionada com seu texto, e de alma lavada porque alguém teve mais sensibilidade que eu para traduzir em palavras não só o que eu, mas todos os participantes das edições anteriores o distanciamento que os organizadores procuraram imprimir com o nosso trabalho. Afinal, quem nos conhece? Só o próprio Luiz Joaquim que ministrou as oficinas?
ResponderExcluirGostaria sinceramente de te dar os parabéns por essa crítica linda pessoalmente. Mas, como talvez isso não seja possível, envio por este veículo meu forte abraço por seu feito :)
Muitíssimo obrigada, Lucas e Poliana!
ResponderExcluirPoliana, já postei uma resposta na página do Janela do Facebook, vai aqui novamente.
ResponderExcluirOlá Poliana. Liana conversou comigo sobre algumas questões e achei o texto dela perfeito em relação à percepção pessoal dela para com o Janela, e as sugestões para o Janela Crítica, o que explica a divulgação tranquila do mesmo aqui no Facebook. O Janela Crítica é muito importante, tanto é que ele continua sendo realizado desde a 1a. edição. É fato também que é impossível eu pessoalmente cuidar de cada desdobramento do Jan Critica, por isso que ele fica nas mãos de Luiz Joaquim antes e durante o festival. Luiz é a ponte entre os que fazem o Janela Crítica e o festival, a divulgação e tudo mais. De qualquer forma, esse seu post é uma surpresa no sentido de que essa é a primeira vez que o projeto recebe críticas, e ainda tão rancorosas. Não teria sido o caso de termos nos comunicado? Esse ano, tivemos um jantar inicial antes de o Janela começar, onde reunimos todos os participantes para acertar os ponteiros. Foi muito bom e tive sensação de que juntamos um grupo excelente de observadores. Não me cabe julgar os desdobramentos pessoais de cada participante na vida profissional junto à grande imprensa após o Janela Crítica, mas sinto lhe informar que desde os primeiros contatos que a idéia é mesmo de oferecer uma experiência exaustiva e intensa de cinema, exatamente como deve ser para um cinéfilo/crítico num grande festival de cinema. Talvez ano que vem devamos realmente sublinhar isso e não escolher alguém que pareça estranhar essa dedicação que, para muitos, é estranha. Para terminar, esse ano adorei as escolhas desse júri para a premiação. Me pareceram corajosas, essa é a idéia. abs, Kleber
Kleber, obrigada por receber meu texto e minha crítica exatamente como eu gostaria, ou seja, como exame isento do festival, nos moldes estimulados por você, Emilie e Luiz Joaquim desde nossos encontros iniciais. Acho que a maior integração proposta fica insinuada por aqui, através dessa divulgação bastante tranquila do meu texto, como você apontou. Independente da forma como cada um pode sentir essa experiência (para mim ela foi muito mais forte do que eu mesma supus que seria), acredito que a simples oportunidade de participação do Janela já atende e supera o que ele exige da gente. Finalmente, a nossa escolha dos filmes também foi motivo de orgulho. Uma longa discussão polarizada entre Dia Estrelado (que acabou recebendo nossa menção honrosa) e Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo, de um lado, e Adeus, Mandima (lindíssimo) e Fourplay: San Francisco, de outro. LJ soube mediar os debates e acho que os dois curtas eleitos se harmonizam com o propósito bastante arrojado do festival. Abraços!
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