segunda-feira, 7 de novembro de 2011

BRASIL 4 - FILMADOS EM LOCAÇÃO

Pethrus Tibúrcio

Diante da verticalização claustrofóbica que o espaço urbano sofre, a concentração populacional é maior e a isolação também. Com Vista para o Céu (Allan Ribeiro, 2011) é submerso em ruídos do amanhecer ao fim do dia, assim como são as cidades. Entre uma barreira de tijolos e janelas, duas pessoas entram em contato e quebram a solidão pelos versos de Adoniran Barbosa. O filme pega uma situação bem humorada, e que nos é comum, para trazer-nos à consciência da necessidade inerente ao ser humano de interação social.

Se no primeiro filme tudo o que podíamos ver eram filetes azuis e brancos entre os prédios, em Dia Estrelado (Nara Normande, 2011) os olhos do espectador são puxados diretamente para o céu. As cores quentes que constroem uma releitura de Van Gogh e localiza-nos, com uma pincelada poética, na narrativa, mostra-nos a região inóspita em que os personagens se encontram. Nara Normande cria, em seu próprio espaço, uma metáfora forte e verdadeira aliada a uma estética irrepreensível.

Em Adormecidos (2011), Clarissa Campolina dá aos modelos publicitários uma cidade que é só deles. O curta é construído em cima de luzes e anúncios que nos são conhecidos. Inicialmente, a cidade é vista de longe, aparentemente vazia e sem grandes movimentos. Quando a câmera se aproxima, o movimento dos faróis, que servem como termômetro e sempre em azul, os personagens imóveis estampados em cartazes ganham expressão nas ruas paralisadas.

Na divisa entre a Bolívia, o Peru e o Brasil encontra-se Bolpebra, que dá título ao curta de Guilherme Marinho, João Castelo Branco e Rafael Urban (2011). O filme mostra-nos qual a relação dos poucos habitantes desta região boliviana com seu território e como se dá o sentimento de pertencimento a uma nação em situações como esta. A câmera percorre o rio dando-nos uma situação geográfica do local até o ponto exato de encontro entre os países.

Com cinegrafia intimista, Contagem (Gabriel Martins e Maurílio Martins, 2010) quebra a narrativa linear e volta quatro vezes para determinada hora do dia sob a ótica de quatro personagens. Em cada um dos momentos, um dos moradores de Contagem é centralizado diante das câmeras e os outros permanecem fora do enquadramento. Um momento mostra resquícios de olhares anteriores que, se não nos fossem conhecidos, passariam despercebidos e nos faz pensar como somos inconscientes do que acontece ao nosso lado e que sempre nos afeta. O curta desvenda como se dão e desenvolvem as relações interpessoais em pessoas que possuem apenas duas coisas em comum: o lugar onde vivem e o desejo de saírem de lá.

Em Praça Walt Disney (2011), Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira observam e regem uma orquestra diária que toca na zona sul do Recife. Os apitos dos portões dão início e fechamento a uma sinfonia complexa que narra o convívio e distanciamento dos moradores, trabalhadores e transeuntes da Praça Walt Disney. O filme perde um pouco do foco narrativo para as imagens capturadas, mas que ainda são dignas de serem assistidas. Apesar de fazer um lembrete, um tanto vago, das influências externas sofridas pelo país, é na bossa brasileira que os cachorros, lixeiros, putas, turistas e moradores ganham ritmo.

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