Bárbara Buril
Invasão e abandono: o movimento nos espaços
Maria Francisca decidiu não renunciar ao seu espaço. Fincou raízes ainda mais fortes no pequeno terreno de meio hectare, em São Lourenço da Mata, quando o Grupo Petribu expulsou 15 mil famílias para a construção de um complexo alcooleiro. O drama, iniciado nos anos 1990, continua desconhecido pela maior parte da sociedade. Ocupa as páginas dos cadernos de cultura do Estado, quando é divulgado o curta-metragem Acercadacana (Felipe Peres Calheiros, 2010), exibido ontem (7) no programa Brasil 2 - O Meu Espaço, no IV Janela Internacional de Cinema do Recife.
Premiado como melhor filme e melhor montagem no 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2010, o curta denuncia, com imagens fortes, os efeitos negativos da expansão dos latifúndios canavieiros. As cenas da casa à noite, sem luz elétrica, chocam. Apesar de viver ao lado de um dos maiores empreendimentos energéticos do Estado, dona Maria Francisca vive sem luz. Proibições do Grupo Petribu. O diretor Felipe Peres consegue penetrar no universo da mulher com a delicadeza de um Eduardo Coutinho. Não invade.
Também conquistou o público o bem-humorado Os Sapos (Clara Linhart, 2011). O espaço do casal Marcelo e Luciana é desequilibrado pela visita de Paula, uma antiga colega de infância de Marcelo. Em uma pequena casa no interior, o casal vive sob a presença indesejada de sapos. Elo entre os dois, o animal desaparece enquanto Paula está presente. As paqueras deslavadas do homem levaram a plateia às risadas. Após a ida de Paula, voltam a coaxar os sapos do cotidiano.
Igualmente cômico é o curta-metragem O Hóspede (Anacã Agra e Ramon Porto Mota, 2011), uma ficção científica no Cariri. Um extraterrestre com corpo humano hospeda-se em uma pousada do interior da Paraíba com o objetivo de disseminar, naqueles arredores, uma doença que cega. Com uma qualidade cinematográfica indiscutível, o filme consegue criar humor a partir do teor freak das situações.
Sobre a invasão dos espaços, também é o curta A Janela (Ou Vesúvio) (Leonardo Amaral e João Toledo, 2010). Agora, é a televisão a grande defloradora das intimidades do lar. Um avô e um neto assistem e escutam narrativas de telejornais, que não só noticiam violências sociais, como as incitam. Na rua, ouvem-se tiros e muito barulho. Embaixo da cama, o símbolo do medo materializa-se em uma arma.
Enquanto Acercadana, A Janela, Os Sapos e O Hóspede tratam da invasão de espaços por seres e coisas estranhas, Monja (Breno Baptista, 2011) constroi o movimento inverso do abandono. O silêncio de uma casa, a lenta passagem do tempo, uma cama de casal ocupada pelo corpo solitário de uma mulher e uma camiseta masculina amarrada remetem ao fim de um relacionamento. A personagem, em Monja, já não grita pelo “meu espaço”. Conforma-se com ele.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
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