domingo, 6 de novembro de 2011

INTERNACIONAL 1 – SINFONIAS INDUSTRIAIS DE CINEMA

Bárbara Buril

Encantos e desencantos do movimento

O movimento preenche o tempo. Encanta. Envolve. E enlouquece. As maravilhas e os infortúnios de pessoas e coisas sujeitas ao mover-se estiveram presentes na essência temática do Programa de Curtas Internacionais 1. Sob o título Sinfonias Industriais de Cinema, o bloco de curtas exibiu películas experimentais, em que as questões do deslocamento estão na própria formação técnica do filme.

Em Movimenti Di Un Tempo Impossible (Flatform, 2011), o tempo preenche o próprio tempo. Vê-se uma casa antiga, sujeita às intempéries da natureza. Não há ações humanas. Todas as mudanças realizadas na paisagem são causadas pela chuva, neve, neblina e pelo vento. O dançar das árvores ao redor da casa, embalado pelo Allegro Moderatto de Maurice Ravel, nada mais é que o agir do tempo.

Assim como se propaga no tempo, o movimento também se estende no espaço. O média-metragem Cat Effekt (Gustavo Jahn e Melissa Dullius, 2011) mostra o transitar de uma mulher por uma fria e sombria Moscou. À deriva, a personagem, ao circular por ruas, metrôs e passarelas subterrâneas, é atraída pelas mesmas pessoas inúmeras vezes. A película também problematiza questões como o fluxo contínuo dos seres, a falta de maciez do contemporâneo e a solidão, todas imbricadas em relações de causa e efeito.

O movimento encantado está em New London Calling (Allá Kovgan, 2010), Enterprisse (Mauricio Quiroga, 2010) e Electric Light Wonderland (Susanna Wallin, 2010). No primeiro, um grupo de crianças faz coreografias pela cidade de New London. Apesar do interessante jogo fílmico com imagens e sons, falta aprofundamento. Quem são mesmo essas crianças que se diferenciam, apenas, pela cor da camiseta? O que quer dizer a coreografia de Alissa Cardone? Por que New London? As imagens estão pelas imagens.

Em Enterprisse, o movimento inicia lento. Um homem leva um boneco de Woody, de Toy Story, para um parque de diversões. Lá, admira-se com o movimento das máquinas e põe-se em posição contemplativa. A partir de então, as imagens vistas pelo homem inundam o espectador, com a rapidez própria das máquinas do parque. O movimento se acelera. Tanto o homem se encanta, quanto o espectador.

Assim como Cat Effekt, Electric Light Wonderland também se expande para outros terrenos de discussão. Apesar de trabalharem com iluminação de festas, um pai e seus três filhos vivem em clima de tensão. Com a seriedade da velhice, o homem profissionaliza a magia das luzes e reprime a imersão dos garotos no universo maravilhoso. O programa Sinfonias Industriais de Cinema mostra-se coeso: ao falar de movimento, sublinha que tempo e espaço geram encantos e desencantos.

3 comentários:

  1. ô, bárbara.

    bacana tua leitura do "Electric Light Wonderland". Incisiva, certeira.

    em relação ao "New London Calling", fiquei com um pé atrás durante a exibição. mas fui digerindo as informações e deixei de cobrar sentidos mais rígidos, como os apontamentos feitos por tuas perguntas. talvez a idéia de um "homo ludens" adormecido, um pouco de alento para estes tempos tão sisudos.

    se cuida, té mais. umbeijo.

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  2. juva, bote fé. percebi as nossas diferenças em "new london calling". não curti. o filme tem a intenção de ser lúdico, mas comigo não deu certo! queria mais naturalidade. menos cores primárias. mais gente nas ruas. gostei do ato de comentar os posts. vou ler os outros. beijito!

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  3. muito boa essa tua interpretação de Movimenti Di Un Tempo Impossible: "o tempo preenche o próprio tempo". faz todo o sentido!
    mas acho que a questão que tu coloca sobre New London, de que "as imagens estão pelas imagens", não é exclusividade desse filme. nesse programa, se não completamente, como é o caso do New London, pelo menos parcialmente temos a impressão de que algumas imagens ficam soltas demais nas narrativas. sei lá, acho que faltou uma liga mais convincente.

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