quarta-feira, 9 de novembro de 2011

BRASIL 6 – PUXANDO E SOLTANDO

Bárbara Buril

O destino (ou a maldição) dos laços

Eu queria que você ficasse aqui. Diz a avó para o seu neto. O curta-metragem OMA (Michael Wahrmann, 2011), exibido ontem (9/11) no programa Puxando e Soltando, mostra o universo da senhora Gerda, frágil, mas bonito. O neto (o próprio cineasta), ao conversar com a avó através das câmeras, capta dizeres tocantes sobre incompreensão, apego, tempo e visão. O espectador pode quase chorar. Em preto e branco, o filme entra em consonância com o universo da senhora, escurecido pela pouca capacidade dos olhos. Tudo é cinza, diz.

Também é emocionante o curta Zenaide (Mariana Porto, 2011). Mais próximo do videoarte, o filme mostra fotografias envelhecidas de mulheres que se casaram em 1960. As batidas de coração compõem o som, juntamente com os depoimentos das atuais senhoras. Apesar de terem resumido as suas vidas ao casamento, uma delas diz gostar da música Moon River, do filme "Bonequinha de Luxo", e canta: There is such a lot of world to see...¹ Talvez não agora. Quem sabe, depois...

Ainda dentro da questão dos laços familiares, está o Uma Primavera (Gabriela Amaral Almeida, 2011). Uma mãe leva a filha para comemorar o aniversário de 13 anos em um parque. A garota está crescida, já faz as pernas, troca mensagens com o namorado e diz não gostar da cor do bolo: rosa. O programa, idealizado pela mãe, já não cabe mais. Um passarinho morto, ao lado da toalha de piquenique, guarda a metáfora da liberdade. Com equilíbrio, a fotografia limpa de Matheus Rocha capta uma manhã no parque.

Já os dois curtas Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo (Rodrigo John, 2011) e Na Sua Companhia (Marcelo Caetano, 2011) tratam dos laços puxados e soltos dos amores perdidos e conquistados, respectivamente. O primeiro, um divertidíssimo desenho animado, mostra o fim de um relacionamento de uma forma cômica, para não dizer trágica. Um mar de sangue inunda a casa do personagem, um cachorro humanoide. Para parar de sofrer, o homem (?) congela o próprio cérebro e vomita o coração.

O amor conquistado – finalmente! – está no filme de Marcelo Caetano. Pornoamador, o personagem do filme usa a câmera de seu celular para registrar homens nus com os quais se relacionava. Depois de conhecer um homem na noite gay de São Paulo, o conteúdo de suas imagens passou a mudar: além do nu, retratos do cotidiano dos dois. O curta fecha o programa Puxando e Soltando com a música Maldição, de Maria Bethânia. Afinal, que destino ou maldição manda em nós, meu coração... ?

¹ Tradução: Tem tanto no mundo para ver... Canção de 1961, composta por Johnny Mercer e Henry Mancini.

2 comentários:

  1. "Para parar de sofrer, o homem (?) congela o próprio cérebro e vomita o coração". É exatamente isso. O curta aparentemente singelo e cômica revela uma dor profunda e um grito de desespero comum a tantos meros mortais de carne e osso.

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  2. é verdade, bia.

    outra verdade (que eu não tinha atinado para): "Um passarinho morto, ao lado da toalha de piquenique, guarda a metáfora da liberdade". A liberdade que as mães tentam matar e que se recusam a encarar de frente.

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