quarta-feira, 9 de novembro de 2011

BRASILEIROS 3 - SALVAR ARQUIVO

Domitila Radharane

Raimundo dos queijos, Victor Furtado; CE, 2011. O bloco de curtas “BRASIL 3” inicia-se com o curta Raimundo dos Queijos. Obra instigante e sensual. Entre olhares, cristalinos, um homem branco com olhos verdes, vestindo roupas leves e chinelos, e um caderno de anotações vermelho, música e movimento que mais parecia dança. Segue o destino à uma mesa do bar “Raimundo dos queijos”, situado na Travessa do Crato/Ceará. O personagem e seu diário de capa vermelha, harmonizado ao portão vermelho atrás da mesa escolhida. Dentre uns goles de cerveja, degusta queijo coalho e cita o seu dia: ”Domingo, centro, Raimundo dos queijos”. Qual o eu lírico deslumbra beleza de compor a escrita como prosa poética. Paralelo à isso, um grupo de deficientes visuais em performance musical, vibrando de entusiasmo o público de ontem(08/11/2011), no cinema da Fundaj. Dentre canções, o trecho “a fogueira tá queimando, em homenagem à São João[..]”. Entre sorrisos e vibrações de alegria, o filme parece se comunicar com o público. E os signos aparecem em variedade. Um momento familiar repleto de vida, fogo energético condutor dos observadores apreciadores da arte ambulante e viva que é o ser humano.

Ovos de dinossauro na sala de estar (Dinosaur Eggs in the Living Room) Rafael Urban; PR, 2011. Dentre variados tipos de linguagem e cenários, Ovos de dinossauro na sala de estar, a partilha da sublime e memorável vida em suas particularidades. Uma senhora loira vestida de vermelho, uma meia-calça, um lustre de cristal e piano são elementos que suscitam o gosto sofisticado da personagem, logo da idealização da obra. Um retrato às criações, boas lembranças e virtuoso amor com o falecido esposo. Através de narrações da história de sua vida, fotos que se fazem eternas no inconsciente. E citações de um antigo convite de jantar em sua residência-museu-laboratório artístico. Entre preciosos objetos e coleções, a lucidez de continuar a vida vigorosamente ativa. Bela película que ativou ao sentimento da pureza de compartir e re-significar através de lentes transformadoras, qualquer processo estático do ser humano de impossibilidade de avanço. O tempo pareceu lento demais em algumas cenas, uma espécie de sentimento vazio sem significado. E então, esse pode ser o foco da crítica em sentido de relativizá-lo.

Roberto Cabeção (Big Headed) Salomão Santana; CE,2011. No mesmo bloco, Roberto Cabeção, nos lembra o amor através de desenhos, interações de imagens simples de uma rotina no interior do Ceará, e muito afeto. Inicia-se com um desenho de um homem nu com uma grande cabeça verde que reflete grama, e uma declaração-homenagem: “meu tio Roberto tinha uma cabeça enorme[...]”. Algo situado na expectativa de sentir-se diante do infinito, do inusitado acaso, que pulsa os círculos sociais em sua chegada. E corrompe o medo de protestar todo o necessário, situado no movimento das evoluções. Com tantos elementos familiares, uma rádio em “flashes” com técnicas expontâneas a destencionar, e fazer o natural fluir do personagem presente na cena , e todo o público. Meios e formas de educação são expostas através de um olhar neutro e revelador. Ao mesmo tempo, exposição de crianças à linguagens que divergem o nível da boa educação, refletindo aos alicerces básicos, melhoras na conduta ética e moral da sociedade brasileira. Por vezes, um sentimento de ingenuidade pelas explorações em níveis tão profundos como presentes no dia- a- dia de um cidadão carente de qualidade de vida. Em outras visualizações, o fio profundo do coração que liga, transmuta e renova, refrescando a sensação da evolução de cada dia, sendo realizada por imaginários limpos, brilhantes e prósperos.

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