terça-feira, 8 de novembro de 2011

BRASIL 2 – O MEU ESPAÇO

José Juva

Espaço, E s p a ç o, E s p a ç o, E s p a ç o


Você, leitor, tem conhecimento sobre qual é o seu espaço? O programa de curtas-metragens BRASIL 2 – O MEU ESPAÇO, da IV Janela Internacional de Cinema de Recife, mostra realizadores que desdobram, cavam ao redor, constroem e conquistam um espaço próprio. Filmes diferentes em seus anseios e gêneros, com variadas preocupações e soluções estéticas para refletir a respeito da noção de espaço, as películas compartilham a atenção às urgências do conhecimento de si e sobre o lugar do sujeito no mundo e também os limites e os atritos deste sujeito com os outros e com o ambiente ao redor.

Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros, é um filme certeiro. Com fôlego curto, mas intenso, faz um recorte da história de luta de Maria Francisca pelo reconhecimento de posse de seu sítio contra as ameaças do Grupo Petribu, forte grupo econômico do setor canavieiro. Dona Maria é um personagem denso, e o filme consegue captar a todo instante sua alma afirmando e reafirmando seu direito legítimo ao espaço, a permanência de seu vínculo com o sítio de sua família. Em Monja, dirigido por Breno Baptista, acompanhamos a história de uma mulher solitária numa cama de casal. Em seu apartamento, ora se esparrama no chão, enquanto tenta ligar um ventilador quebrado, ora se abandona vagarosamente na banheira. A solidão ecoa, é espessa, e não arrefece nem mesmo quando a mulher encontra um parceiro para um sexo casual. Ela volta a estar só numa cama de casal, enquanto o sujeito dorme num colchonete no chão.

Com o curta-metragem A Janela (Ou Vesúvio), de Leonardo Amaral e João Toledo, a questão do espaço procura a identificação de uma fronteira entre o cotidiano e a realidade midiática. A televisão orienta a percepção do mundo. Ao olharem por uma janela da casa, um jovem e um senhor escutam a guerra. E o quarto se transforma num acampamento provisório para os feridos por essa crueldade diária. Em O Hóspede, da dupla Anacã Agra e Ramon Porto Mora, uma ficção científica simultaneamente bem-humorada e apreensiva, a visita de um alienígena a uma pensão do interior da Paraíba instaura o conflito, amplamente costurado no suspense e na curiosidade diante do desconhecido, sobre os espaços reservados ao anfitrião e ao visitante. Com bela fotografia e uma trilha acertada, o filme dialoga inteligentemente com as convenções do gênero, criando um trabalho com voz própria.

A problemática espacial recebe um tom intimista e divertido em Os Sapos, de Clara Linhart. A película nos põe em contato com um casal, sem compromisso formal (sabemos depois), em uma casa no sítio, perto de cachoeiras e de sapos. Por um pedido do sujeito, outra mulher, uma antiga amiga de conversas esporádicas na internet, aparece na casa – o que provoca fissuras no frágil relacionamento entre a “capitã” e o “sargento”, como o casal se nomeia. Para o espectador, rindo com as voltas na história, parece ecoar a todo instante a idéia de que não há espaço para os três.

Nenhum comentário:

Postar um comentário