quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Internacional 6 - Caro Diário
Thaís Vidal
Um programa muito sensível e que suscita profundas reflexões é o Caro Diário, exibido ontem no Cinema São Luiz. Abrindo a seção, Blokes, um filme chileno que narra a descoberta da sexualidade. De maneira sutil e delicada, a diretora Marialy Rivas mostra um menino, Luchito, que se vê apaixonado pelo seu vizinho, Manuel, e não consegue disfarçar. Os detalhes de sua sexualidade em descoberta deixam o filme mais profundo a cada cena, pois Luchito simplesmente admira Manuel e se vê entregue a um sentimento do qual não pode falar, principalmente num contexto político de Santiago do Chile em 1986, sob a ditadura de Pinochet. A cena em que os dois trocam sinais pela luz e Manuel se masturba para o outro é crucial para analisar a completa descoberta, de rapazes que se encontram no mesmo desejo.
No curta espanhol Androides (foto), de María Pérez, o encontro não é sexual, como em Blokes, mas de amizade, dois jovens solitários e excluídos por suas existências, um garoto homossexual, de cabelo vermelho – lembrando David Bowie no álbum Aladdin Sane de 1973 – e uma garota deficiente física se encontram num objetivo comum de fazer contato com alienígenas. O que a princípio é apenas um desejo juvenil utópico, se mostra mais do que isso, é um desejo de se encontrar, de se sentir parte de algo, já que a sociedade, demonstrada principalmente pelos pais do garoto, Simon, é excludente e preconceituosa. Na narrativa, há diversas cenas que mostram os contrastes entre Simon e seu irmão, que o diminui, como a primeira em que o garoto faz xixi sentado e o irmão entra no banheiro xingando-o. Os amigos não procuram de fato alienígenas, eles procuram espaço, procuram compreensão e identificação, porque para a sociedade eles já são os alienígenas.
No francês Dans nos veines, de Guillaume Senez, a história é outra, a relação entre pai e filho, diante de uma precoce gravidez. O menino Lionel de 17 anos precisa assumir uma posição de pai, pois sua namorada está grávida, mas a presença do seu pai e a postura dele diante da criação dele e de seu irmão lhe fazem negar a paternidade, pois ele não sabe o que é ser pai, e sua referência é negativa e ele não a quer transpor de maneira alguma. Durante o filme, se pode observar um menino que precisa deixar de ser menino para assumir responsabilidades, mas não consegue, ainda joga Playstation, ainda briga com o irmão mais novo, ainda faz farras e chega em casa levado pela polícia. Esse menino não pode ser pai, mas precisa encontrar o pai que terá que ser dentro de si. A cena final em que diz para a namorada: "pegue-o de volta, eu não quero machucá-lo" diz muito sobre sua relação com seu pai, e o pai que pretende ser.
Fechando o programa, e falando de jovens pais e filhos, o francês En suspension, de Fanny dal Magro, narrando a luta de uma jovem mãe para criar sua filha, atendendo aos seus desejos e impondo autoridade. É uma história sobre a dificuldade da mãe solteira que precisa de emprego, de estrutura, mas também de amor. No filme, a menina Manon muitas vezes não entende a mãe e cobra dela diversas coisas. Ao mesmo tempo, a mãe quer prover a filha, mas se vê presa às suas condições. Há uma cena muito bonita e delicada que representa o sentido do filme, que é o amor maternal, mãe e filha estão na praia e a menina não quer ir pro mar, a mãe vai sem dizer nada, mergulha e desaparece. O olhar vazio da filha nesse momento deixa o espectador em suspensão, mas a mãe retorna e a filha corresponde ao carinho que só a mãe pode lhe dar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário