segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Internacional 02 - Os Laços que nos Separam


Thais Vidal

Ontem foi exibida no Cinema São Luiz a segunda seção de Os laços que nos separam, programa da mostra competitiva com seis curtas internacionais ligados pela temática das relações humanas e suas complexidades. Com o filme que abre a seção, Homecoming (foto), o diretor Kwok Zune, consegue mostrar como muitas vezes o que se pensa que é o melhor não é o melhor.

E que uma vez cortado um laço, reconstruí-lo é ressignificá-lo ou substituí-lo e é isso que acontece com a empregada doméstica filipina Charlie, que vai para Hong Kong trabalhar e deixa seu filho por vinte anos. Quando tenta retomar contato, já não tem mais uma criança e nem mesmo o controle sobre os planos do filho. E então vem a transferência do amor maternal para o menino Kiddo, de quem cuida com devoção. A interpretação do garoto é o ponto alto do filme, e o encanto que ele transmite está na simplicidade com que é posicionado como elo entre a saudade de Charlie e a verdade dos efeitos das suas atitudes.

O segundo filme da noite, o curta norueguês Wireless in the world 2, de Timo Arnall, traz a arquitetura de grandes cidades como caótica para a integração humana. Em meio a círculos brancos que se cruzam e coexistem no meio da cidade, que como na própria sinopse do filme são descritos como fluxos de informação, existe o concreto e não existe o contato. As pessoas passam umas pelas outras, pelos espaços, mas, ao mesmo tempo em que circulam em meio aos fluxos, não circulam entre si, parecem viver em bolhas que as isolam.

Retomando a temática dos laços entre pais e filhos, o filme A bike ride, de Bernard Attal, contagia pela sua beleza e sensibilidade, toca por ser suave e tratar de sentimentos de uma maneira clara. Fala sobre o poder que as pequenas coisas, as palavras, os gestos têm de transformar a vida das pessoas. Uma bicicleta se torna o lar, o elo entre pai e filha, e a câmera, uma extensão da bicicleta, capta essa relação. Ver o rosto da menina é entender as mudanças e ouvir o pai é saber por que elas acontecem. Como o próprio diretor afirmou em debate, "a bicicleta é o único lugar que pai e filha têm juntos, em que podem compartilhar segredos".

Apontado para outro horizonte, foi exibido Unplay, de Joanna Rytel. O sueco gravado em 35mm traz ironicamente a relação amorosa e sexual. A melhor descrição para ele está mesmo na sinopse "Dois paus nas mãozinhas feministas dela. Que luxo da porra".

Fechando a noite e seguindo a linha família, Videojuego, da chilena Dominga Sotomayor, destrincha a indiferença, ou talvez o isolamento, de um garoto diante da separação dos pais. Com a câmera posicionada num plano aberto que parte do videogame que a criança joga, se tem ao fundo uma separação. Apesar do interessante de refletir se o garoto se poupa ou realmente ignora o fim do casamento, o curta não se livra do clichê de separações, talvez porque elas sejam mesmo clichês. Também foi exibido Unicycle film, uma história de amor não convencional do inglês Thomas Hicks.

Um comentário:

  1. Thais, Gostei muito do que você viu no curta Homecoming, resgatando elementos que tambem não enfatizei. E pensei a mesma coisa que você em Videojuego, que gostei muito, por sinal. Márcio.

    ResponderExcluir