quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Internacional 3 – Fazer Backup


Nathalia Pereira
"O que a memória ama, fica eterno" - Adélia Prado

O terceiro programa internacional do Janela, Fazer Backup, foi exibido ontem (terça-feira, 16) no São Luiz. O tema que costura os quatro curtas do bloco é o apelo às lembranças como exercício de autoconhecimento. A seleção permite um diálogo muito bem pensado entre os curtas, que talvez possa ter sido prejudicado pela má projeção das legendas em português.

Abrindo a sessão, Ted’s Nest (Petra Freeman, 2009) é um filme que gera certa agitação no espectador. É como um devaneio, pois existe uma aura de conto de fadas macabro, tudo muito fluido: estética e narrativa. Sua arte é resultado da técnica de desenhar em vidro, maturada por Freeman, e os traços dos cenários são como uma assinatura da autora. A diretora inglesa carregou muito de si ao projeto, que revisita seu imaginário de criança, quando fantasiava que havia um ninho de enguias mágicas perto de onde morava. Um olhar pra trás nos sonhos, ainda presentes.

O segundo curta do programa, Cynthia Ainda Tem as Chaves (Gonzalo Tobal, 2010), apóia-se no monólogo de uma mulher arruinada após o fim de um relacionamento. Como não consegue seguir em frente sozinha, Cynthia (Maria Villar) passa a sobreviver apenas pelos momentos que permanece escondida no apartamento do homem que ainda ama. O exercício de auto-anulação é refletido pela protagonista quando diz que é preciso muito cuidado para apagar seus rastros do apartamento, ela vive como um parasita da "presença" do outro. A atuação de Villar é um dos pontos fortes do curta, a atriz transmite uma expressão serena a uma alma desesperada, o que faz com que a personagem ganhe ares de loucura contida.

French Courvoisier (Valérie Mréjen, 2009) (foto) vale o destaque da sessão pela sutileza com que retrata alguns amigos, fisicamente, em torno e uma mesa de jantar e, sentimentalmente, habitando a memória de uma pessoa que já morreu. Após a refeição, todos os assuntos retomam a lembrança do amigo perdido, e as coisas que são ditas provocam sorrisos, constrangimento, tristeza e saudade. A câmera capta a solidão pertencente aos membros da mesa, que parecem ter seguido caminhos diferentes, após a morte do amigo. A lembrança da pessoa ausente é o laço mais forte entre eles, o morto é o mais presente da mesa.

Para fechar o programa, uma sensível proposta de resgate artístico e histórico. A intenção de Apenas Para Fins Culturais (Sarah Wood, 2009) é a de registrar, fazendo uso de depoimentos e ilustrações, o que foi perdido do antigo acervo palestino de filmes. O principal questionamento do filme fica explícito logo no início: "Como seria nunca ter visto uma imagem do lugar de onde você é?”. A lembrança dessas imagens se torna especial, pois agrega às características iniciais de cada obra, as particularidades de quem não a esqueceu.

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