De volta ao início
Poliana Dantas
Parece um pouco redundante, mas nada melhor para uma abertura que explicar o (fim do) seu começo, com falhas, atrasos e muito sucesso, explicitamente visível na reação do público presente. Em poucas palavras, esta poderia ser uma das maneiras de resumir o que foi a abertura do III Janela Internacional de Cinema do Recife, realizado na maior e mais clássica sala de cinema de Pernambuco, o Cinema São Luiz.
O primeiro curta exibido, Avós, de Michael Wahrmann, retrata com delicada clareza e com doses equilibradas de um humor infantil e ingênuo, o peculiar microcosmo que é a vida familiar, especialmente o convívio com os avós. Através da curiosidade e das angústias do menino Léo e da ajuda de uma super-8 que ele ganhou no seu 10o aniversário do avô, nota-se que o excesso de proteção vindo de entes queridos também pode indicar uma fuga da realidade seca, ao criar outra, paralela e suave - e até certo ponto suportável.
Já a animação italiana Big Bang Big Boom (Blu) é literalmente um sinônimo de explosão. Não de materiais bélicos; é exatamente a falta destes, agregado à utilização de objetos triviais (como uma bolinha e uma sandália, por exemplo) e à exploração massiva – e inteligente – do stop-motion, para ilustrar o relato da (des)história da civilização humana e sua ligação intrínseca com as deficiências nos atuais sistemas de produção; que o deixa mais frenético e envolvente, causando despertar mais profundo para consciência espacial.
E para fechar a noite, houve a exibição do longa Além da Estrada, primeiro longa do cineasta Charly Braun. Bom, ele não foge muito das máximas dos enredos de filmes românticos convencionais. Para compensar o lado fraco do filme, Braun descarta de uma extrema sensibilidade na fotografia, elevando as paisagens que trilham os caminhos dos personagens Santiago e Juliette ao estado de resposta paulatina (ou até mesmo à travessias, para quem se interessa apenas em seguir) às inquietudes comuns aos homens de desejar se encontrar e de querer alguém para projetar sua identidade.
É interessante perceber como os curtas (mesmo fazendo parte de mostras competitivas diferentes) e o longa-metragem, nessa perspectiva, estabelecem entre si uma conexão que visa ir muito mais além de uma simples amostra de um evento, e sim como síntese da filosofia do festival: a janela (imagem) como porta de entrada (e saída, para quem a vê como escape) no universo da compreensão da complexidade humana, juntamente com seus danos e virtudes.
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