segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Internacional 01 - Intervenções



Yuri Assis


É bem provável que os espectadores do programa Intervenções, primeiro bloco de curtas internacionais da Janela Internacional de Cinema, tenham deixado a sala do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco com mais perguntas que respostas. O absurdo, em alguns momentos, ocupou a tela, talvez para sublinhar nossa intransigência diante do estranhamento.

O curta que abriu o bloco, Synchronisation (2009), do lituano Rimas Sakalauskas, exibe prédios antigos da era soviética que ganham vida e se deslocam, sem se apoiar num enredo específico. Um esforço de compreensão, todavia, pode entrever nas cenas oníricas uma metáfora sobre o abandono. A trilha sonora complementa os ares surrealistas que contornam a atmosfera do filme.

A seguir, a animação Chienne D'Histoire (2010), do francês Serge Avédikian, aterrissa os olhares para uma realidade mais verossímil. Com o excesso de vira-latas nas ruas, as autoridades de Constantinopla iniciam uma captura aos animais, para em seguida deportá-los para uma ilha distante. Morto o bicho, morto o veneno? E a peçonha, vem de onde mesmo? Fica a dica para quem acha que os males sociais não têm nada com a sociedade em si.

As cenas em 3D de Augmented City 3D (2010) focam o domínio da fúria tecnológica sobre o cotidiano. O diretor inglês Keiichi Matsuda mostra um mundo dependente destes aparelhos para as ações e interações mais triviais. O inventado permeia o real, a ponto de não ser possível distingui-los. Coisas típicas de tempos de globalização.

Já o holandês Insurrectionists Progression (2009), co-dirigido por Sylvie Zijlmans e Hewald Jongenelis, traduz uma experiência que se aproxima da estética dos sonhos. Pai e filho atravessam a cidade repetindo padrões, numa coleção de ninharias que não revela o menor sentido. Permanece a impressão de que a herança também transmite lixo.

Shoum (2009), da sérvia Katarina Zdjelar, veio para quebrar o gelo no programa. A plateia ria dos esforços de um homem para interpretar uma música da banda Tears for Fears. No que acreditava ser inglês, a pessoa ia transcrevendo os versos à medida que ouvia a canção. No fundo, o curta-metragem reflete as dificuldades imemoriais relativas à comunicação humana.

Destaque para a película indiana Gaarud (2009), de Umesh Vinayak Kulkarni, que, ao modo de Aluísio Azevedo em seu livro O Cortiço, tece, num panorama, retrato da sociedade indiana. Os espectadores são levados por uma câmera a conhecer os cômodos de um edifício popular, onde vivem diferentes indivíduos. Sem pretensões de aprofundar a história de nenhum personagem, Umesh deu preferência a compor um quadro geral.

O notável Big Bang Big Boom (2010), do italiano Blu, encerra o Intervenções, percorrendo a história mundial desde a criação do universo. A animação, quiçá uma das melhores realizações em stop motion, parte de pinturas para contar como foi surgindo a vida no planeta.

Um comentário:

  1. Yuri, seu comentário sobre História de Cão mexeu bastante comigo, pois é esse sintoma de perfeição que às vezes nos cega diante de nossos próprios vícios. Do mesmo modo, a crítica a Shoum me chamou atenção a uma idéia que não havia tido num primeiro momento. Muito bom.

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