quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Internacional 3 - Fazer Backup
André Valença
Rememorando, relendo
O programa Internacional 2 (ou Fazer Backup) exibiu quatro filmes bem distintos esteticamente, mas que mantinham certa coesão temática. A seleção variou entre estilos mais surreais e outros mais "palpáveis". A sessão teve início com Tad’s Nest (Petra Freeman, Inglaterra, 2010). Tad’s Nest, diz a sinopse, "é onde as enguias se tornam adultas antes de serem chamadas a voltar usando apenas e memória das sensações para guiá-las". O filme, bela animação feita em pintura sobre vidro, sugere uma revisitação da memória através da metáfora do desenvolvimento das enguias. A impressão que pode ficar, entretanto, é de um ensaio darwiniano, pois as criaturas humanóides de Tad’s Nest sempre se deparam com outras maiores, por quem estão sendo sempre engolidas, física ou metaforicamente.
O segundo curta exibido se chama Cynthia Ainda Tem as Chaves (Gonzalo Tobal, Argentina, 2010) e prova que a Argentina continua produzindo um cinema se não bom, regular. O filme segue a mente desvairada de Cynthia, que ainda guarda consigo a chave para a casa de seu ex-namorado, por quem continua apaixonada. Ela visita sua residência todos os dias a fim de sentir sua presença. Com um roteiro bem desenvolvido, pensando em todos os desdobramentos que o argumento pode sugerir, o filme talha o resultado sombrio do fim de uma relação e a paranóia humana de necessitar ser amado. A atriz Maria Villar fica na corda bamba, mas, por fim, consegue atender à expectativa do papel.
Subindo na escala de "palpabilidade", chegamos ao sóbrio French Courvoisier (Valéria Mréjen, França, 2009). O texto inteligente e elegante, que lembraria um Woody Allen melancólico, descreve um grupo de amigos à mesa de jantar que relembra um amigo. A conversa progride naturalmente nas bocas de um elenco jovem e muito bem integrado. As informações das entrelinhas são tão bem estruturadas (mas também sutis), que qualquer espectador capta os sentidos mais obscuros. French Courvoisier é um filme capaz de ser apreciado por todos; um pequeno drama sem melodramas.
Apenas Para Fins Culturais (foto) (Sarah Wood, UK, 2009) encerra a seleção com uma reflexão inerente à modernidade: "numa época dominada pela imagem em movimento, como seria nunca ter visto uma imagem do lugar de onde você é?". A partir daí, Sarah Wood destrincha a relevância do cinema para a cultura de um povo quando faz resenhas sobre – e desenhos representativos de – filmes etnográficos palestinos. Muitos deles, pertencentes ao acervo de filmes da Palestina, se perderam durante o Cerco de Beirute, uma investida israelita no Líbano. O filme não só tem a função de rememorar essas obras, como o título da seleção (Fazer Backup) sugere, mas também fazer-lhe uma releitura.
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