Márcio M. Andrade
Versando sobre a união / desunião entre pessoas e sobre as formas em que estes estados podem se configurar, os diversos curtas desta mostra equilibram-se entre narrativas convencionais e projetos contundente e experimentais.
Com toques de melodrama, Homecoming (Kwok Zune, 2009) acompanha os infortúnios que cercam a vida de Charlie, que, desejando sustentar seus filhos, trabalhou durante vinte anos em Hong Kong, mas terminou por acreditar que o dinheiro que lhes enviava demonstrava o amor que sentia. Contudo, ao descobrir que Rex, seu filho, engravidou sua namorada e deseja viver sua vida de forma independente, ela começa a perceber a falha que cometeu durante todos aqueles anos. Com uma linguagem convencional, Zune deixa seus personagens dominarem a história, o que conseguem fazer com propriedade, ainda que o roteiro ressoe clichês que estamos acostumados a acompanhar.
Os fluxos de informação e conexão são tema do experimental Wireless in the world 2 (Timo Arnall, 2010), que, valendo-se de efeitos especiais, expõe círculos de conexão nos lugares por onde a câmera passeia, gerando uma metáfora visual que pouco se desenvolve através do enredo e da direção, mas se encerra em sua idéia primordial.
Trazendo sua filha como protagonista em um curta singelo e sincero, A Bike Ride (Bernard Attal, 2009), Attal utiliza-se de sua própria biografia para falar sobre uma garotinha que aprende a lidar com as mudanças com leveza. Vendo seus pais se separarem, Nina anda com uma expressão triste, mesmo passeando de bicicleta com seu pai, e ouve sua voz serena tentando lhe oferecer formas de lidar com a realidade. Aos poucos, a garota consegue abrir-se diante das possibilidades e entraves que as situações da vida proporcionam e a desviar-se daquilo que parece fazê-la desviar-se do seu caminho, algo mostrado com sutileza pela talentosa atriz mirim e pelo habilidoso diretor.
Em Unplay (Joanna Rytel, 2009), vemos inicialmente um namorado sabendo a respeito de uma traição que sua namorada fez com seu amigo e desejando manter o controle da situação ao dizer que foi ele mesmo que planejou a transa entre os dois. No entanto, a moça acredita se revelar feminista ao dizer que foi ela quem planejou transar com ambos, mas, mesmo no domínio da sua sexualidade, não se pode acreditar que esse ato de "revolta" de fato favorece a igualdade entre homens e mulheres da melhor forma.
Mesclando técnicas de animação e live action, Unicycle film (Thomas Hicks, 2009) favorece a poesia visual ao exibir o caos da movimentação constante e o contraponto da tentativa de se conectar profundamente a alguém, longe da mecanicidade e da falsidade do cotidiano.
Propondo um olhar diferenciado entre a separação conjugal e as conseqüências deste ato através do olhar da criança, Videojuego (Dominga Sotomayor, 2009) expõe um infante que joga constantemente tênis no seu videogame, enquanto observamos seu pai empacotar caixas com seus pertences e deixar o lar. O menino pouco se importa com o rompimento definitivo daquele laço, mas difunde sua energia diante do jogo, não como uma atitude de revolta ou desprezo pela situação em seu entorno, mas uma tentativa de distanciamento da dor emocional que surgiria por causa daquela situação. A dissolução daquele laço familiar lhe afeta tanto que sua única solução é distanciar-se dele ao máximo, a fim de não se machucar com seus próprios sentimentos.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
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