sábado, 20 de novembro de 2010

Internacional 5 – Estados Alterados


Poliana Dantas
De perto, só a câmera é normal

Existe uma tendência humana contemporânea de dar, com maior frequência, “vazão” aos estados de espírito mais incomuns e perturbantes; ações que rompem os limites da rebeldia fundamentada, dos sentidos táteis, das (suportáveis) relações entre dois ou mais seres, até mesmo da loucura iminente, elas são esporadicamente jogadas em um determinado espaço, sem nenhuma pretensão com o que pensem ou deixem de pensar acerca do seu conceito. Assim poderíamos resumir o experimentalismo quase non-sense que foi a Mostra Internacional 5 – Estados Alterados (até o título já funciona como um prelúdio do sentimento do espectador durante a sessão).

No curta “A History of Mutual Respect” (foto)(Gabriel Arantes / Daniel Schmit, 2010) já é possível prever a carga pesada de humor negro (literalmente) e misógino na história de dois rapazes que buscam, durante uma viagem meio que epifânica, encontrar a essência da miscigenação ideal, pura – mesmo que isso apenas se resuma à cópula prosaica e programada, para fins de perpetuação da espécie (seria isso uma sátira às concepções anteriores ou um ressentimento enrustido de ex-colonizador?). Já em “Floating Head” (Bem Dickinson, 2010) e “Health – We Are Water” (Eric Wareheim, 2010), é nítido a repulsão e o choque causados não só pelo caráter trash e de escárnio que eles adquirem, como também pela necessidade norte-americana latente de expressar seus alteregos utilizando elementos bizarros e excêntricos, flertando intrinsecamente com distúrbios e desejos de poder unitários.

Em "If There Be Thorns" (Michael Robinson, 2009), o longo monólogo do personagem ao relatar um surto de incesto e magia em uma ilha deserta, além de perder em certos momentos sua coerência narrativa – afinal, tratava-se de uma história quase que vomitada – , consegue despertar no público um tédio bastante vivo, e um diálogo com o nada conceitual, em busca de um sentido. Na produção “Dot” (Sumo Science, 2010), todavia, esse sentido existencial não achado no curta anterior, é sintetizado aqui em um ponto, incitando-nos a refletir sobre as atuais relações entre tempo e espaço.

As unidades sócio-dogmáticas, bem como suas desilusões para com elas, também geram um mal-estar comportamental. Como exemplificado em “Jesusito de Mi Vida” (Jesus Perez-Miranda, 2009), quando um menino não consegue encontrar na tal “ajuda divina redentora e prometida” a superação para um medo trivial, bobo: o do escuro (temos aí um grande candidato a ateu, explicado pela cena do crucifixo debaixo da cama); em “El Paraiso de Lili” (Melina Leon, 2009), em que Lili, em uma performance a la James Dean mirim, desilude-se precocemente com as corrupções que cercam os sistemas de enlaces políticos; e, encerrando o programa, em “Fear Thy Not” (Sophie Sherman, 2010), uma menina, à mesma velocidade da captação da câmera, canta como uma ultrarromântica uma cantiga de domínio público, à procura, talvez, de uma resposta abstrata e imediata que nem os limites daquele roteiro podem supri-la dessa ânsia.

As variações dos níveis de (in)consciência, independente de que estrato social o indivíduo venha, quando escarradas tem sempre o mesmo objetivo: quebrar as fronteiras do standart. Na Psicanálise, Freud provavelmente denominaria o evento como "exarcebação do id"; no cinema, isso poderia ser chamado de cena marginal, underground.

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