terça-feira, 16 de novembro de 2010

Internacional 01 - Intervenções


Poliana Dantas

We are the robots (?)

Se fosse possível fazer uma trilha sonora que aproximasse e/ou unisse em algum ponto os curtas exibidos na Mostra Internacional 1 – não por acaso intitulado de Intervenções –, com certeza as músicas do grupo alemão Kraftwerk estariam no topo da lista. O diálogo entre uma realidade imanente e volátil e um almejado futuro high-tech, e sua influência nas interrelações entre humanos e máquinas, foram bem aplicados em doses lúcidas e diferentes em cada obra.

Um desejo tridimensional que se inicia no imaginário da infância, na inspiração provocada pelo universo sci-fi, em que parece ser mais fácil dar vida e nova perspectiva a arquiteturas estáticas e inanimadas. Essa é a sensação despertada pelo curta Synchronisation (foto) (Rimas Sakalauskas, 2009); sensação esta vinda de um lugar onde, curiosamente, possui um atraso tecnológico com relação a outros países ocidentais. E seguindo esta linha de equiparação, temos Chienne D’Histoire, que conta a história de um recém-empossado governo da cidade de Constantinopla que, querendo conquistar o perfil de sociedade do Ocidente, manda dizimar todos os cães viralatas que rondam as ruas.

Até aí seria mais um roteiro extremamente dramático, não fosse o olhar sagaz do diretor Serge Avédikian em levantar uma questão crucial: a que ponto aceitamos coibir e corromper nossos valores a fim de nos adequarmos ao que é moderno? Essa "supressão" da identidade, no entanto, contrapõe-se ao objetivo do curta Gaarud (Umesh Vinayak Kulkarni, 2009) de mostrar que por trás de turbantes e tradições religiosas, existem pessoas entregues às suas solidões existenciais e dispostas a modificarem suas identidades com novas regras, novas informações.

Mas para receber o que é novo, é preciso antes de tudo saber interpretar, seja a seu próprio modo ou a do outro. Essa espontaneidade adaptativa é tratada com muito humor em Shoum (2009), de Katarina Zdjelar; um filme sobre um homem que tenta transcrever a todo custo uma música do Tears for Fears. A partir daí, o público passeia pelas fronteiras entre o mundo tocável e o virtual como artifício para a fortificação das relações humanas, como se vê em Augumented City 3D, de Keiichi Matsuda, uma "tridivisão" da rotina dos relacionamentos, e em The Insurrectionists Progression (Sylvie Zylmans / Hewald Jongelelis, 2009).

E, como toda busca, toda mediação, proporciona sempre uma conseqüência, nada melhor pra fechar o Programa que o quase apocalíptico Big Bang Big Boom, do cineasta italiano Blu. O ritmo frenético imprimido pela exploração do stop-motion e o sinal de alerta ao final da película gera, de fato, um incômodo perturbante naqueles que pensam que modificar as morfologias naturais visando um futuro melhor é sempre a melhor solução.

Falar de intervenções é tão abrangente, mexe de forma considerável em diversos campos da ciência; contudo, todos eles convergem para um único viés: o da (des)evolução e maquinatização dos seres, mesmo que isso implique em paradoxos.

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