terça-feira, 16 de novembro de 2010
Brasil - Salvar Arquivo Vol. 2
Ingrid Melo
As coisas findas ficarão
Cinema mudo, nascimentos, viagens, romances. A primeira sessão de curtas nacionais do III Janela Internacional de Cinema lançou um olhar sobre a memória registrada através de imagens. E, dentre os quatro filmes apresentados, o destaque ficou por conta do irônico Fantasmas, do diretor mineiro André Novais, que, ao contrário do que esperamos, propõe a captura de algo justamente para esquecê-lo.
O curta brinca com a estética de filmes de arte e leva o espectador a passar cerca de dez minutos olhando para determinada esquina em uma rua, sem que isso faça sentido. Em off, as vozes dos dois atores conversando sobre coisas triviais, como uma partida de futebol e um empréstimo de dinheiro. O filme acena que vai limitar-se à jocosidade, todavia, nos últimos minutos, a explicação para o enquadramento da câmera acrescenta ainda mais originalidade a ele e justifica sua escolha para a sessão. Assim, compreendemos que os fantasmas citados no título vão bem além dos personagens que a plateia não enxerga.
A inovação no trato da imagem, contudo, não se restringiu ao filme de Novais. O curta Aeroporto, do recifense Marcelo Pedroso, mostra como o que seria descartado pode contar uma história. No filme, o diretor utiliza fotografias de viagens de anônimos para refletir acerca da facilidade de documentação oriunda dos avanços tecnológicos e não se limita aos registros perfeitos. Em seu curta, há espaço também para as imagens sem foco ou com problemas de enquadramento. Vale ressaltar, entretanto, a semelhança com Pacific, produzido por Pedroso no ano passado. Apesar da escolha por fotografias em detrimento aos vídeos usados no longa, Aeroporto é outra boa execução de uma mesma ideia.
Outro filme que se aproxima dessa linha é o Supermemórias (foto), de Danilo Carvalho. O diretor cearense também se valeu de imagens amadoras para seu curta. Com o diferencial de que o material conseguido por ele não é tão acessível assim. Carvalho reuniu vídeos caseiros de famílias de Fortaleza gravados em Super-8 nas décadas de 70 e 80 e, com uma trilha sonora excelente, conquistou o espectador. O resultado é um filme redondo, de eixo narrativo claro – justificado pelo nascimento do diretor –, repleto de ternura. Prato cheio para os nostálgicos.
Nostalgia também fez parte de Janela Molhada, de Marcos Enrique Lopes. O curta, às avessas dos demais, não inova, porém resgata um cinema pernambucano muito rico e pouco abordado pela mídia. O filme fala sobre Ugo Falângola e J. Cambieri, imigrantes italianos pioneiros em cinema no Recife e sobre o processo de restauração e preservação de filmes mudos. Um belo trabalho de montagem e pesquisa, com ênfase para o depoimento de Adriana Falângola e suas lembranças.
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Ingrid, adorei seus comentários, que refletem muito do que experimentei naquela sala, principalmente com o curta Aeroporto e Fantasmas. Muito bom.
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