segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Brasil 6 - Estamos Todos Juntos

Nathalia Pereira

O programa nacional Estamos Todos Juntos foi reprisado quinta-feira (18/11) no cinema da Fundação. Cinco curtas formam esse bloco e todos eles falam sobre o amor, em suas expressões mais inocentes e sinceras. A forte presença da infância e dos laços familiares, abordada com muito realismo, faz com que o programa transmita sensações de intimidade e reconhecimento para o público. É uma das sessões mais carismáticas da Janela.

A começar pelo filme de Ricardo Targino, Ensolarado (2010), em que a iminência da partida do lar amedronta a menina Lena. Ela precisa mudar-se de onde cresceu para “clarear a vista” em outro lugar, como diz sua avó. A menina não pertence mais ao sertão, embora continue apegada a ele, e a necessidade de ir além da tristeza para descobrir novos caminhos é a mensagem forte do filme, que pode ser resumida no conselho da avó: “Cantar bem mais forte que a dor, se a dor for maior que o peito”. Lena tenta fugir da nova fase, e a câmera corre atrás dela, filmando seus pés indecisos, até que ela acaba por convencida. Da tranqüilidade daquele lugar, leva uma tartaruga como lembrança e, para o sol forte que incomodava tanto, encontra um par de óculos escuros, primeira descoberta no novo caminho.

O segundo curta do programa, Avós (Michael Wahrmann, 2009), provoca deja-vus. A câmera super-8 que Leo recebe do avô registra cenas que seguramente causam nostalgia em muitos dos espectadores que conviveram com esses parentes. Por exemplo, a insistência para que o neto coma, recorrente no filme, é a demonstração universal de afeto das avós, pois “coma mais, meu filho” é “eu te amo” para elas, todo mundo sabe. E o curta de Targino explora esse carinho com humor, conquistando pelo registro das expressões corriqueiras. Além disso, o filme explora o contraste entre a ingenuidade infantil e as lembranças de quem já sofreu muito. A naturalidade com que Leo pergunta se a avó esteve em Auschwitz não entende o silêncio bruto em retorno.

Já Perto de Casa (2009), foi dirigido por Sérgio Borges, mas o comando das situações pertence mais aos seus filhos, Iel e Ravi, filmados durante um passeio. O diálogo que as crianças estabelecem com a câmera e entre si ajuda o filme caseiro a agregar um valor maior, pois explora de forma interessante, tanto a espontaneidade dos meninos, quanto suas relações com a imagem. Como quando o menor deles não se importa em ficar pelado diante da câmera, mas se esconde quando passa algum desconhecido por perto. Ele não reconhece que o destino daquelas imagens captadas pode ser a projeção para muitos outros estranhos, e se permite agir naturalmente em suas brincadeiras.

O filme seguinte, Querida Mãe (Patrícia Cornils, 2009) parece fugir um pouco do olhar infantil que vinha sendo seguido pelo programa. Mas o que se percebe quando Patrícia vai relendo as cartas escritas por sua mãe é que a necessidade de sentir a presença da figura materna, ausente há muito tempo, se assemelha à de uma criança. A descoberta da intimidade de uma mãe com quem quase não conviveu – e o registro desse percurso em vídeo - parece ser uma tarefa necessária para que um espaço vazio seja preenchido.

Voltando à infância, de forma mais explícita, Balanços e Milkshakes (Erick Ricco e Fernando Mendes, 2009) é uma animação em rotoscopia que revela um primeiro amor, com indícios de sexualidade sendo descoberta. A relação entre as duas crianças que se apaixonam lembra o clássico Bentinho versus Capitu, em que a menina é responsável por certa malícia que hipnotiza e influencia o outro. A inocência em Estamos Todos Juntos é sutilmente perdida nesse fim.

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