domingo, 21 de novembro de 2010

Internacional 5 – Estados Alterados

Yuri Assis

Uma primeira impressão do programa Estados Alterados, exibido segunda (15) e quinta (18) no São Luiz, pode afastar o espectador de mensagens que não se pretendem diretamente expressadas. Quando o caso é experimentar, calma e atenção são necessárias para entender o que está projetado na tela.

Em If There Be Thorns (Michael Robinson, 2009), uma voz em off narra acontecimentos enquanto imagens vão tecendo metáforas além da compreensão comum. É um filme cujas entrelinhas assumem o papel mais importante. Em poesia, ganha muito. O diálogo com o público, todavia, fica prejudicado, exigindo um esforço de aprofundamento nos símbolos que apresenta. Da mesma forma, A History of Mutual Respect (Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, 2010) se concentra numa situação que é mais do que parece: dois jovens partem numa viagem que se fia nos significados ocultos. Contudo, neste caso há um enredo mais explícito para dar chance à adivinhação.

Floating Head (Ben Dickinson, 2010) e Health - We Are Water (Eric Wareheim, 2010) dão lugar no Janela para o nonsense, ambos trazendo o gênero do horror ora sob o viés do humor ora sob o viés da estética trash. O primeiro já deixa o recado de que ali nada deve ser levado a sério. O segundo, idealizado como videoclipe para a música We Are Water da banda norte-americana Health, fica na beira do conceitual, mas sem firmar um compromisso estrito de fazer sentido.

Narrativas mais próximas à realidade surgem com o espanhol Jesusito de Mi Vida (Jesus Perez-Miranda, 2009). Neste curta, entra em cena Jesus, um menino de seis anos de idade, que tem medo de atravessar o corredor escuro para chegar ao banheiro. Recorre à fé em busca de ajuda, mas, por causa da omissão da providência divina, se vê diante de uma lição muito dura. A gente sai da sala de cinema certos de que o fato banal terá repercussões bem sérias nas crenças do menino. Está aí uma crítica muito bem construída ao fanatismo das religiões cegas.

Na mesma tendência, o peruano El Paraiso de Lili (Melina Leon, 2009) pontua um momento político no Estados Alterados. Graças à influência de seu irmão, Lili descobre, nos últimos suspiros da Guerra Fria, que o mundo é uma eterna disputa de poder mesmo nas relações mais corriqueiras. As cenas em preto-e-branco ganham cor para contrastar o mundo real com as fantasias da menina, que, embora idealizem um universo descomplicado, reflete questões daquele.

A animação Dot, rodada pelo duo Sumo Science em 2010, dá uma trégua para o espectador saturado de alegorias cujo sentido precisa ser resgatado. Gravado num Nokia N8, utiliza o acessório CellScope, que permite ampliar imagens microscópicas. Por último, Fear Thy Not (Sophie Shernan, 2010) mostra uma pessoa filmando o esforço de superar o próprio medo – não seria esta a comparação mais justa com a condição do público deste programa?

Um comentário: