sexta-feira, 23 de outubro de 2009

VOCÊ ESTÁ AQUI



Mas onde mesmo?
Por George Carvalho

O título do programa parece sugerir alguma localização exata, mas a sensação é exatamente o contrário. Os curtas que integram o bloco Você está aqui, da mostra competitiva internacional da II Janela de Cinema do Recife, trazem personagens perdidos ou em busca de algo que não sabem bem o que é, como a casa que serviria de locação para as filmagens no roteiro do tailandês A letter to uncle Boonmee (Uma carta para o tio Boonmee).

Para o protagonista de Vilay (Dissolução), sua localização incerta se estabelece no contraditório entre realidade e lembranças, presente e passado. Consumido pela ausência presença da avó, o personagem passeia por ambientes e paisagens distintos.

No italiano Domenica 6 Aprile Ore 11:42 (Domingo 6 de abril, 1:42), as contradições são ainda mais explícitas: nem as localizações geográficas exatas dos personagens e ações dadas no filme servem para situar o espectador nas conexões que se estabelecem entre os ambientes e seus habitantes.

A falta de orientação que acomete os personagens de Triangulum na sua busca pelo equilíbrio causa incômodo. Mais ainda pelo fato dessa paranóica desorientação não permitir nada mais que a projeção de algumas belas imagens.

Outras nem tão belas terminam por causar um impacto maior no espectador em Destination finale, pela simbologia que carregam. Neste último filme do bloco, a maioria dos nove minutos são compostos por imagens caseiras de um grupo de turista – um deles mais especificamente – em viagem pela Europa. As brutas foram encontradas em destroços do Vietnã invadido pelas tropas americanas.

E entre tantas viagens e pretensas localizações, Você está aqui traz histórias com deslocamentos físicos definidos, mas com jornadas psicológicas que apresentam nuances mais sensíveis e, por vezes, incertos. Isso remete ao questionamento que dá título a esse texto, num contexto que Freud já explica (ou tenta) há muito tempo.

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