domingo, 18 de outubro de 2009

Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo



Por Doralice Amorim

Viajo porque preciso, (não) volto porque (ainda) te amo.

Um filme de amor e de estrada. Foram essas as palavras do diretor Marcelo Gomes, na noite de ontem (16-10-09), durante a abertura do Festival Janela Internacional de Cinema, sobre o seu novo filme, dirigido em parceria com Karim Ainouz, Viajo porque preciso, volto porque te amo. A obra é constituída de imagens e registros adquiridos, nos últimos dez anos, em estradas e colações no interior do nordeste e, finalmente, teve sua estréia em agosto de 2009, no Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Gomes e Ainouz conseguiram transpor para o seu filme a atmosfera do sertão a partir de imagens, que muitas vezes parecem ter sido feitas pelo próprio José Renato (personagem principal interpretado por Irandhir Santos), que vai narrando, como se estivesse dirigindo-se para alguém (talvez para o próprio público), as suas sensações e sentimentos, ao longo da dura viagem que realiza por paisagens estagnadas no tempo. O sertão é trabalhado não como local de denúncia, mas como um ambiente próprio para a reflexão.

O geólogo, José Renato iniciou a sua viagem, primeiramente, porque precisava realizar um projeto a trabalho e deixou, em casa, a sua "Galega". Ao longo da travessia, ele se depara com um ambiente árido, sem cores e, muitas vezes, imóvel. A câmara parada em algumas cenas intensifica a sensação de imutabilidade daquela paisagem e aguça o sentimento de solidão e de desespero do personagem para acabar logo a viagem e ver a sua mulher amada.

É curioso analisar, como ao longo do filme, José Renato faz reflexões que se encaixam perfeitamente com a paisagem retratada naquele momento. E como as pessoas que ele encontra na beira da estrada ou em pequenas cidades têm, de diferentes formas, relações com a sua própria história. A solidão acaba sendo um elo entre o personagem, a paisagem e os habitantes daqueles lugares. Os espectadores também são atingidos por esse vinculo, seja por terem vivido momentos como os daquelas pessoas ou por terem as mesmas aspirações. "Quero uma vida de lazer", disse uma das mulheres que aparecem no filme. Não há como ficar indiferente àquelas imagens e histórias.

A viagem fica mais longa que o esperado e, aos poucos, o próprio personagem cria uma espécie de identidade com o ambiente, sua própria história se mistura, com o sertão. O público não sabe, na verdade, se ele não volta porque não tem pra onde ou pra quem voltar. Ou quais foram os seus reais motivos para viajar. José Renato acaba por acompanhar as mudanças da paisagem ao incorporá-las em sua própria transformação, ou melhor, superação. Viajo porque preciso, volto porque te amo é um filme belíssimo e vem ganhando o destaque que merece por onde passa (Gomes e Ainouz ganharam o prêmio de melhor direção no Festival do Rio de 2009).

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