sexta-feira, 23 de outubro de 2009

As Manobras do Olhar



Por Gariela Alcântara

Estar num festival de cinema é alimentar a imaginação e as pupilas, ampliar a consciência de capacidade. Seguindo essa ideia, o Janela oferece uma maratona de olhares que são, no mínimo, diferentes daqueles que estamos acostumados a ver no cinema.

A sessão começa com Loop Loop, curta que brinca com a imagem, num ir e vir de várias coisas misturadas, com uma espécie de corrida para registrar tudo. O filme tem variações de velocidade e sons, indo pra trás e pra frente a todo instante, deixando o espectador meio atordoado na tentativa de também tentar ver, entender e registrar tudo. É como se o filme entendesse a sede da memória humana, e jogasse essa vontade imediata na tela.

Ainda mais agoniado é Murphy, de Bjorn Melhus, que mergulha de cabeça na desordem do abstrato, apresentando um curta de sensações, trabalhando com cores fortes e sons ansiosos e aflitos, que fazem com que o público feche os olhos e tenha vontade de sair da sala, tamanha é a bagunça. O curta lembra Blue, de Derek Jarman, na sua coragem de explorar de forma tão diferente a capacidade do espectador de sentir sensações.

Voltando para uma linha narrativa mais tradicional, Les Ongles também não deixa de surpreender. Contando a história de Antoine, que não pode parar de roer as unhas, mas se vê obrigado pelos amigos a fazê-lo durante uma festa, o curta segue o caminho do terror, quando todos descobrem o porquê do rapaz não poder parar de roer nem por um minuto. A câmera é amadora, seguindo o exemplo de filmes que tentam flertar com o documentário, como Rec, mesmo apesar dos claros efeitos especiais presentes. Fantástica a ideia de ver o quanto se pode brincar com um simples vicio, trazendo imagens meio loucas e exageradas, mas que nem por isso deixam de causar uma certa agonia em quem as vê.

Continuando pelo caminho mais comum, o alemão Milbes traz um stop motion fofo, com uma fotografia que lembra bastante Amelie Poulain, e a história divertida de uma senhora que mora sozinha com ácaros gigantes. O cenário maquete e os ácaros espalhados por toda parte ajudam a compor a fantasia, dando ares infantis que acalmam a sessão, depois de tantos curtas aflitivos, que tinham deixado o público meio elétrico.

Ao final da sessão, os espectadores saem lembrando que um filme pode ser feito de inúmeras formas, pois a habilidade que temos de registar imagens, imagens e mais imagens é enorme, o importante é não perder a criatividade, afinal de contas, como disse Matheus Nachtergaele em Baixio das Bestas, de Cláudio Assis: "O bom do cinema, é que no cinema tu pode fazer o que tu quiser".

Participaram também da sessão os curtas Fugue, de Galina Myznikova e Sergey Provorov, Blind Bund, de Seb Coupy e Plane days, de Benjamin Kracun e Ewan McNicol.

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