terça-feira, 20 de outubro de 2009

Do Lado de Fora Tentando Entrar



Por Gianni Paula de Melo

Em dizeres de Guimarães Rosa, "a gente nunca deve declarar que aceita inteiro o alheio" e esta posição é bastante sensata. As dificuldades de acolher o diferente e aprender a conviver com ele remetem a preconceitos históricos das sociedades, além de uma franca tendência à marginalização de grupos minoritários. Porém, os mesmos personagens que a vida ignora, a arte adota. E se isso não resolve, ainda assim é alguma representação.

Os quatro curtas-metragens que formaram o programa "Do lado de fora tentando entrar" evidenciam, exatamente, estes personagens que estão à margem. Metropolis Ferry (Juan Gautier, Espanha) - foto - e Una y otra vez (Antonio Mendez Esparza, Estados Unidos) apresentaram duas abordagens da situação dos imigrantes. Para uma temática tão conflituosa, mas, ao mesmo tempo, recorrente, é esperado um esforço no sentido de não produzir mais do mesmo. Um esforço que nem sempre é feito.

Em Metropolis Ferry, o tratamento violento que os policiais da fronteira concedem a um garoto que tenta entrar ilegalmente no país gera indignação em alguns jovens que estão voltando de viagem. No entanto, o filme mostra como as indignações são temporárias (e tem vida bem curta), pois o personagem David, que ao ajudar o garoto parece obedecer a um anseio da consciência, logo percebe que seu julgamento romântico e seu envolvimento com a situação são arbitrários.

Já o curta Una y otra vez aponta as dificuldades do imigrante, ainda que legalizado, para ser aceito e alcançar alguma importância longe de casa. Uma história que já foi contada várias vezes e que, neste caso, se utiliza de uma fórmula de poucos riscos, mas também de poucos méritos. Enquanto, no primeiro, o sonho da Europa, neste, o sonho da América: nos dois, as velhas expectativas por lugares que solucionam problemas. Não solucionam.

O documentário Was Übrig Bleibt (Fabian Daub e Andreas Graefenstein, Alemanha) ainda que também retrate personagens que a sociedade ignora, traz na contramão dos primeiros curtas uma sensação de contentamento e ingenuidade. Os dois mineradores ilegais da Baixa Silésia parecem não querer nada diferente do que é – nem no presente, nem no futuro - e a essa sensação soma-se a estética do filme que está sempre sujando a tela com um preto de carvão.

Finalmente, Peau Neuve (Clara Elalouf, França), o último filme do programa, explorou a rotina democrática dos banheiros públicos, a partir dos vários planos de um mesmo ambiente. Ainda que povoado por figuras extremamente banais, como as dos demais curtas, o filme soou um pouco anacrônico junto aos outros.

Um comentário:

  1. Deixando Guimarães de lado, encantado onde quer que esteja, a introdução foi extremamente precisa para eu entrar no clima desse comentário. E, de fato, não entendi como esse curta dos banheiros públicos foi parar aí, só vendo mesmo. :)

    Abraços,
    Diogo.

    ResponderExcluir