sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A PALAVRA DAS IMAGENS
Arte Cinematográfica a conta-gotas
Por Bento Gonçalves
Com a obra Sumi (foto) a plateia é levada a uma viagem junto ao coração dos aspectos nipônicos, servindo os ideogramas como fio condutor de tal jornada. Aspectos psicológicos, econômicos e sociais são abordados nesse "semi-documentário" – imagens não possuem caráter cronológico nem planos fixos. Especial relevância à trilha sonora como auxílio narrativo, já que a obra não possui diálogos diretos.
A segunda atração, Nem Marcha nem Chouta, propõe, com nuances metalinguísticas, um exercício de interatividade câmera-objeto-plateia bastante curioso. Uma vez que em momento algum é dada indicação física da presença de uma câmera, tem-se a impressão de que os olhos da plateia servem como a própria câmera; encarando o protagonista e sendo encarada de volta por este.
A interatividade entre as esferas do "fazer cinema", "projetar o cinema" e o "assistir ao cinema" é sobremaneira desenvolvida em Flash Happy Society. Apesar de se tratar de uma experiência no mínimo incomum, à medida que a plateia começa a compreender a proposta da obra, esta não sofre acentuada progressão narrativa, tornando-se um tanto repetitiva. É relevante citar o argumento final, o qual levanta a questão de que a soma das partes (dos homens, sentimentos, ambições, egos) como condição essencial ao todo (a sociedade, a mente...).
Dando continuidade à sessão, Sentinela apresenta um aspecto plástico adequado, a fim de expor acerca das dicotomias presentes no mundo – fogo e mar, claro e escuro, bem e mal. Há um processo de dupla-inversão da realidade, já que a plateia é invadida por seres marinhos oriundos da mitologia popular, nadando no que espacialmente deveria ser o céu.
Mar é mar, céu é céu na terceira obra, Tauri. Possuíndo tons surrealistas e carga sociológica, discorre acerca do alheamento das pessoas no que tange à vida das outras (ou melhor: dos problemas dos outros). Por ser vista através dos olhos de uma criança, é dotada de tons cômicos. Apesar de possuir argumento provocativo, este é exposto de maneira sobremaneira direta, sem grandes recursos narrativos.
Criando um paralelo sutil entre os eventos de maio de 68 na França e no Brasil,
Bomba recorre ao tema do "semi-documentário". Destaque à utilização da trilha sonora e de inserções sonoras a fim de auxiliar a progressão narrativa.
A arte da dança e suas possibilidades são exploradas em A Arquitetura do Corpo. De forma competente, é apresentado um mosaico da população brasileira: suas cores, temperos, idades, classes sociais... todos unidos pelo amor à Arte. Assim como acontece na realidade, muito poucos se realizam plenamente. Destaque aos aspectos técnicos bastante desenvolvidos da obra, dotando-a de tom amadurecido, nessa "sessão-sensorial".
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IMAO, a melhor seleção de curtas do festival^^
ResponderExcluirEsta resenha está a altura da seleção ;-)
Parabéns^\o/\o/