domingo, 18 de outubro de 2009

Eu me Lembro















(Foto:Olhos de Ressaca)

ENTRE RECORDAÇÕES E SURTOS
Por João Roberto Cintra

Primeiro dia de mostra competitiva, de álbuns de família a história de boêmios são mostrados no primeiro bloco brasileiro. Em Olhos de Ressaca, um casal fala sobre momentos, seus filhos, a passagem de tempo, etc. através da colagem de imagens antigas e de época, como em um álbum de família que é folheado. Apesar da identificação inicial com as histórias, que poderiam ser de qualquer pessoa, fica enfadonho ver 'todas' as fotos de quem não se conhece, e o lirismo inicial se perde um pouco pelo tempo excessivo do filme. Já o álbum de família de 9800175056 é estranhamente desfeito: imagens antigas de família são decompostas na tela, o que gera desconforto no expectador, principalmente depois de ter visto o romantismo do filme anterior. Os efeitos sonoros disformes, abafados, dão o tom que vai desde a destruição até a lembrança de um útero materno, em que tudo se refaz e se desmonta - até que a imagem de um bebê se materializa, o próprio diretor, cujo título do filme remonta a sua carteira de identidade.

Três tabelas é centrado em depoimentos de três personagens que falam da sua relação com seus bairros, todos jogadores de sinuca, celeiro de contadores de história e boêmios. Com tantos personagens em foco, o filme se perde pelo tempo curto, e que no final não diz a que vieram.

Dois surtos acontecem em As sombras e A montanha mágica. No primeiro, o estado mental de uma paciente em crise, assistida pelo marido e por uma psiquiatra, determina sua relação com a sua consciência, percepção do mundo (como o devaneio pela floresta) e suas lembranças, que esvaem pelo uso do medicamento. É instigante pensar numa história com recordações que a contragosto se perdem, ainda mais em um bloco cujo tema está em evidência. Isolado talvez não funcione tão bem. Parques de diversão, comuns no interior do Nordeste, eram o tema de A montanha mágica.

Entretanto, o foco é deslocado para as memórias do próprio diretor sobre um fato de infância na roda gigante (a tal montanha mágica): não se sabe se o que lembra aconteceu realmente ou foi fruto de sua imaginação, ou de histórias de terceiros. O surto agora é do diretor/personagem ao ponto do espectador pensar se ele não esperou voltar à razão para terminar o filme. Isso explicaria a última metade, uma confusão que termina com a Nona Sinfonia de Beethoven.

O último filme, Minami em close-up – A Boca em revista, traça um criativo e bem humorado perfil da revista 'Close up', fundada por Minami Keizi, que retratava o cinema marginalizado produzido na Boca do Lixo, em São Paulo. O filme traz depoimentos do autor e de produtores, atrizes, etc. que faziam o cinema com foco em cenas de sexo light (mais conhecidas como 'pornochanchadas'), abominado pela crítica, mas com público cativo e fiel. O documentário ganha ritmo com a inserção de trechos dos filmes da época, que traduz a empolgação com que falam seus realizadores, sem nostalgia piegas. Bom recurso, mas que desvia um pouco do tema central, a revista. Mas, apesar disso, não compromete a empatia com o público no final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário