sexta-feira, 23 de outubro de 2009
DIMENSÕES PARALELAS
Realidades que se cruzam no infinito
Por George Carvalho
Realidades distintas que co-existem ou co-habitam diferentes rincões reais ou imaginários. No bloco de curtas nacionais Dimensões paralelas, da II Janela Internacional de Cinema do Recife, os filmes trazem realidade que se mistura a imaginação e também a outra realidade, sem qualquer tipo de compromisso factível.
No primeiro dos quatro longas, o dia-a-dia de um manicômio prisional é revelado com foco na história de três personagens, com destinos próprios. A casa dos mortos tem o mérito de lançar um olhar diferenciado sobre aquele cotidiano à margem da realidade, apesar do tom didático ao extremo do roteiro dividido em capítulos, com textos em off que marcam o início de cada um deles e cujo sentido é justificado no final, quando é revelado ao espectador que o filme foi baseado em um poema escrito por um detento.
O baiano Nego fugido traz duas realidades que se confrontam, a partir de um ritual folclórico que envolve a cultura afro. Já o pernambucano Superbarroco (foto), de Renata Pinheiro, mais do que o enfrentamento de duas realidades, mostra como elas se complementam. O jogo com as projeções poeticamente inseridas no filme produz efeitos sublimes. O trabalho de fotografia bem-definido ajuda a criar esse impacto.
Mas no quesito fotografia – e talvez só nele –, o destaque do bloco vai mesmo para Quarto de espera. O roteiro extrapola os limites da verossimilhança e cria uma coerência própria para o filme. No entanto, a justificativa para isso não parece claro e seus doze minutos de duração terminam sem que se saiba a que veio, frustrando a atenção do espectador, conquistado pelo homem com uma máscara de gás que circula por um não-lugar qualquer.
O não-lugar, aliás, parece ser o cenário comum aos curtas desse programa. Com seus personagens que mergulham ou já estão inseridos em outras dimensões, o público também é convidado a integrar essas realidades paralelas, sem a consciência de que, talvez, elas possam se cruzar em algum infinito.
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