quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sensações de Inadequações



Os objetos que as detonam
Por George Carvalho

Um chocolate branco, um óculos, uma camisa melada. Não passariam de simples objetos se não personificassem a inadequação ao ambiente onde estão inseridos dos protagonistas de Laurita, O presidente e Nº27 (foto), três dos quatro curtas brasileiros reunidos no programa Sensações de inadequação, da II Janela Internacional de Cinema do Recife.

Para o quarto filme do bloco, O menino que plantava inverno, esse objeto acaba se revelando a própria vida do menino cujos pais foram mortos por um dragão antes mesmo dele nascer. Para matar o monstro e recuperar a vida dos genitores, o garoto planeja congelar o animal e chega até a plantar gelo. A fábula de Victor-Hugo Borges termina com uma moral estranha, para não dizer inadequada (com o perdão pelo trocadilho), que derruba a atmosfera de poesia fantástica que a animação tenta criar.

Os paulistas Laurita e O presidente exalam sutileza através do universo infantil de seus personagens Laura e Victor, respectivamente. A garota que vive com a mãe na casa de parentes transgride regras estabelecidas implicitamente para sua condição de agregada. Um chocolate branco aparece como o estopim dessa situação, que resulta na saída de Laura e da mãe do lar que não é seu.

Já Victor é uma criança cuja visão perfeitamente sadia impede que ele realize o sonho de ter seus próprios óculos. Entre idas a oculistas e a mania de usar óculos alheios, o menino acaba enxergando mais do que devia, causando um mal-estar na relação entre mãe e filho. Nos dois filmes, destaque para as interpretações convincentes, principalmente dos jovens atores, e para as personagens bem construídas e delineadas.

De Pernambuco, vem o N°27 e a discussão sobre bulling. A situação inusitada pela qual passa um adolescente com problemas gastro-intestinais serve como mote para suscitar os questionamentos acerca dessa prática. O roteiro bem-estruturado parece saber bem onde quer chegar, mas acaba passando do ponto: as duas últimas cenas, com a psicóloga e na sala de aula após o incidente, pouco acrescentam à obra cinematográfica.

Em Sensações de inadequação, a vontade e os esforços nem sempre válidos de querer se descobrir como parte de um todo unem os personagens retratados nos quatro filmes. Situações assim não são raras no dia-a-dia. A diferença pode estar apenas nos objetos que as detonam ou na maneira como ocorre. Logo após, é quase certo que algo mude, embora não se saiba necessariamente o quanto isso é bom ou ruim...

Nenhum comentário:

Postar um comentário