segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sensações de Inadequação

Por Gabriela Alcântara

A tal da adaptação

Sendo até agora o melhor programa deste Janela, o Sensações de Inadequação traz filmes pessoais, que dialogam e conquistam o público pela grande semelhança que têm com ele, com as situações difíceis que todos passam ou passaram no dia-a-dia, na tentativa de adaptar-se.

Para alguns, a escola é o ambiente mais cruel quando se trata da tentativa de busca de identidade, de se encaixar. É assim que começa a narrativa de nª 27, de Marcelo Lordello. O curta conta a história de Lucas, aluno do ensino médio, que tem dor de barriga durante uma prova, e se tranca no banheiro do colégio. Com a câmera focada a maior parte do tempo em Caio Almeida, que interpreta o personagem Lucas, o filme tem um clima tenso, já que a partir de uma série de desventuras o menino não quer deixar que ninguém entre no banheiro. Cria-se então uma grande confusão na instituição, que acaba com o personagem saindo do banheiro escoltado pelo coordenador, enquanto vários outros alunos do colégio saem correndo atrás deles, entre gritos e brincadeiras de mau gosto. O filme segue mostrando como a maioria dos adolescentes não tem noção do limite de crueldade, e como alguns pais não se dão conta do impacto de alguns acontecimentos na vida de seus filhos.

Inspirado numa história real, que aconteceu com um amigo de Marcelo, nª 27 toca de forma interessante muitos espectadores que também foram vítimas de bullying, levantando inúmeros questionamentos, principalmente acerca da metodologia de ensino na maioria dos colégios de hoje, e na forma como eles tratam os seus alunos.

Em O menino que plantava invernos, Victor-Hugo Borges fala da adaptação de uma forma diferente dos outros curtas que compõem o programa. Com um estilo de animação sombrio, porém fofo, que lembra claramente os traços do cineasta americano Tim Burton, Victor nos apresenta o conto de um menino que nasceu de um casal de defuntos, vítimas de um dragão. Como acredita que o dragão seja de fogo, ele pensa que pode matar a criatura e recuperar a alma de seus pais, se trouxer à terra um rigoroso inverno. Para conseguir "cultivar" o inverno, o menino planta uma pedra de gelo, mas acaba descobrindo que o problema não está no fato de seus pais serem dois cadáveres, e sim em outra coisa.

Com ironias diante dos desenhos sombrios e com cenas que geralmente apresentam cores escuras, mas com uma história delicada e divertida, o curta ajuda a descontrair o público diante do drama dos outros filmes da sessão, mas não por isso deixa de criar reflexões no espectador, provando mais uma vez que animação também é coisa de gente grande.

A seleção traz ainda os curtas Laurita, de Roney Freitas, e O Presidente, de Luiza Favale. Contando com interpretações incríveis das crianças, que praticamente sustentam os filmes envolvidos nessa mostra, principalmente nesses dois, conhecemos diferentes casos que ocorrem todo dia, e que casam perfeitamente com o título da sessão, com histórias que caminham juntas, onde os personagens fazem uma busca por uma coisa aparentemente simples: a aceitação da sociedade que os cerca.

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