sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A Palavras das Imagens
Por Gianni Paula
A (quase) ausência da palavra foi a característica de identificação entre os sete curtas que formaram o programa A palavra das imagens. Nesta sessão, que abdicava das falas, as propostas também dispensavam as amarras narrativas e os filmes foram, antes de tudo, sugestivos e sensórios.
Nem marcha, nem chouta (Helvécio Marins Jr. ) e Tauri -foto- (Marcio Miranda Perez) parecem se aproximar por colocarem em cena as reações de uma criança. Enquanto na produção de Helvécio ocorre uma interação com um menino na feira, no qual é estabelecido uma espécie de "jogo", de enfrentamento do personagem com a câmera, no curta Tauri, um menino de 2 anos presencia uma briga na praia e a particularidade do filme não é a ação em si, mas a atitude desta criança. Apesar das situações serem distintas, os dois diretores se fixam nos personagens e as expressões deles determinam o tom dos filmes.
O curta Flash Happy Society (Guto Parente) fez um inteligente recorte do nosso tempo de apologia da imagem, no qual o registro dos momentos parecem superar a vivência em termos de importância. As cenas de um evento iluminado por flashs fotográficos combinadas ao áudio do filme dão a ele um caráter levemente hipnótico que é conduzido até o último minuto.
A brincadeira com as luzes também é um traço marcante na produção Sentinela (Cristiano Lenhardt), um vídeo que trabalha em cima de projeções e dialoga com as experimentações sugeridas pela videoarte. Já Sumi (Marina Fraga), filme que abriu o programa, trouxe referências de vídeo-instalação e propôs uma aproximação com os ideogramas japoneses, ao mesmo tempo em que indicava certo hermetismo naquela língua, a partir de uma construção fílmica igualmente hermética.
A memória de maio de 68 esteve representada pelo curta Bomba! (Lara Lima, Marcelo Lima e Renato Coelho) que adentrou uma temática simultaneamente rica e arriscada, já que existem muitas obras ambientadas nesta memória. A produção apostou em uma confusão de imagens que combinadas com algumas frases de efeitos deixou a sensação de mais do mesmo.
A arquitetura do corpo trouxe, para fechar a sessão, o contraste entre a leveza do balé e seus ensaios rigorosos, a beleza dos movimentos e a disciplina que eles demandam, o corpo estético e o corpo exausto. Os bailarinos, enquanto matéria-prima das imagens, ditam as cores, formas e texturas, em um dos curtas mais palatáveis do programa.
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