sábado, 24 de outubro de 2009

Áreas Construídas



Por Gianni Paula

Para além de edifícios, monumentos e paredes de concreto, a arquitetura, assim como tudo em uma cidade, é resultado do desejo humano. O programa Áreas Construídas evidenciou o espaço (e a mudança dele) como elemento de interferência nas relações e os cinco curtas da sessão dedicaram a este elemento recortes expressivos e importância narrativa.

No primeiro filme do programa, o diálogo entre as cenas de um prédio em construção com as imagens de um casamento nos remete, na fusão destes dois assuntos, aos anseios de lar e futuro que existem nos sonhos de casal e no interior daqueles novos espaços. O título, por sua vez, não podia ser mais auto-explicativo: O Sonho da Casa Própria (Cao Guimarães).

A história de Rosa e Benjamin (Cleber Eduardo e Ilana Feldman) traz os sintomas da desconfiança e do ciúme, desmontando a idéia de segurança que se faz dos casais mais velhos. Nesta trama, as conversas do casal surgem sempre para ilustrar as ações que o público não pode presenciar. Sempre na menção do que está fora do quadro, de personagens que conhecemos apenas pelos diálogos, o filme traz certa sutileza na desconfiança de Benjamin sobre um possível relacionamento de Rosa com um novo vizinho, já que não existem evidências postas em cena.

É possível sentir algo parecido no curta O Menino Japonês (Caetano Gotardo), pois seus personagens que estão próximos à janela e observando o prédio em frente, os moradores e suas ações, logo permitem que a memória atravesse aquele momento. Então, é cedido o espaço para que imagens que não estão no filme sejam construídas a partir dele.

Mira foi o trabalho de conclusão de curso do diretor Gregorio Graziozi que já teve outro filme (Phiro) exibido no Janela Internacional deste ano. O curta faz uma aproximação entre as obras de Niemeyer e a estética de Antonioni, proposta que em certa altura é sutilmente explicada, em um exercício metalingüístico talvez desnecessário. Tomado por uma sensação de vazio, Mira faz um desenho da incomunicabilidade entre as construções e os espaços, ao mesmo tempo em que trata da incomunicabilidade entre as pessoas, a partir de seus dois personagens.

A falta de comunicação também permeia Zigurate - foto - (Carlos Eduardo Nogueira). Com suas cores saturadas e uma concepção publicitária, o curta, que sugere o distanciamento social e tenta uma crítica irônica aos valores de casta, manteve a temática dos espaços com seus prédios que alcançam além das nuvens, mas fechou a penúltima noite de festival com uma seqüência de ações que pareceram se perder na própria bizarrice.

Imagino que não por acaso o novo filme de Gabriel Mascaro tenha entrado no programa do festival na seqüência de Áreas Construídas. As coberturas de Um lugar ao sol surgem como um contínuo deste olhar sobre personagens e espaços. Mas, ainda assim, esta já é uma outra história.

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