quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O eterno exercício da crítica cinematográfica

Pelo segundo ano, o Janela Internacional de Cinema do Recife oferece aos interessados pela crítica de cinema, academicamente ou não, uma oportunidade preciosa de exercitar um ofício, não raro, mal compreendido ou, cada vez mais, confundido com a prática do ‘achismo’ ou da simples opinião infundada e balizada prioritariamente por impressões pessoais.

Não que possamos fazer um texto absolutamente impessoal, mas com as facilidades de exposição na internet – nem mais tão recente assim – os textos valorativos sobre cinema proliferaram numa quantidade numérica inversamente proporcional ao que oferecem de boa qualidade. Muitos deixando de lado preceitos próprios que poderiam melhor servir aos leitores de críticas de cinema.

Qualquer trabalho superficial é danoso ou, sendo menos radical, é improdutivo. Não é diferente com a crítica cinematográfica. A questão é que, como em qualquer outra função, ela, a critica, ganha mais robustez com o exercício. E é exatamente essa disponibilidade que o Janela traz aos jovens críticos, que experimentarão o Janela Crítica.

Por meio de encontros, discussões prévias e conferência de dezenas de longas e curtas-metragens nacionais e internacionais, os sete selecionados que formam júri jovem do festival vivenciarão não apenas a experiência por vezes fisicamente desgastante de acompanhar um festival, mas também o prazer em desenvolver a sensibilidade de seu raciocínio a partir da linguagem cinematográfica, e transformá-lo num discurso com função social.

Interessante observar que na conferência dos textos para a seleção dos escolhidos, identificamos escritas extremamente claras, bem desenvolvidas por referências cinematográficas, mas espiritualmente pobres. Ao mesmo tempo, vimos textos mal desenvolvidos, mas dotados de um aguçada compreensão mais universal do potencial humano que um filme pode sugerir.

Não há fórmula para se chegar ao melhor texto crítico cinematográfico, e o Janela Crítica sabe disso. Mas sabe também que o esforço sempre deve existir, e persistir, para chegar próximo desse ‘melhor texto’, tendo sempre no seu horizonte que o crítico é apenas um intermediário entre a obra e o público. E que esse trabalho deve ser feito da maneira mais generosa e justa que esteve ao alcance de seu autor. Ao exercício, então.

LUIZ JOAQUIM

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